Brasil registra pior posição da história no ranking de percepção da corrupção
O Brasil atingiu sua pior posição no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) da Transparência Internacional, ocupando o 107º lugar entre 180 países. O relatório aponta retrocessos no combate à corrupção, destacando fatores como o silêncio do governo sobre o tema, falta de transparência no PAC, ingerência política em estatais, sigilo excessivo em dados públicos e uso indevido de emendas parlamentares.
O Brasil atingiu, em 2024, sua pior colocação no Índice de Percepção da Corrupção (IPC), divulgado anualmente pela Transparência Internacional. Com 34 pontos em uma escala que vai de 0 (percebido como altamente corrupto) a 100 (muito íntegro), o país caiu para a 107ª posição entre 180 países avaliados, um retrocesso de três posições em relação ao ano anterior e a pior nota desde o início da série histórica comparável, em 2012.
O levantamento é baseado na análise de 13 fontes independentes, como avaliações de especialistas, empresários, acadêmicos e organizações internacionais. Ele avalia a percepção da corrupção no setor público, e não casos ou denúncias específicas.
Segundo o relatório, diversos fatores contribuem para essa queda de desempenho. Entre eles, a ausência do tema “corrupção” nos discursos do Presidente da República, que, segundo a organização, pode indicar uma perda de prioridade na agenda governamental. Outro ponto sensível é a falta de transparência na seleção de projetos e no uso de recursos do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), além da crescente influência política sobre as estatais, que têm sido alvo de nomeações de apadrinhados políticos para cargos de direção.
A imposição de sigilo a dados públicos em contextos questionáveis e a falta de transparência na distribuição de emendas parlamentares, em especial as chamadas emendas de relator, conhecidas como “orçamento secreto”, também foram duramente criticadas. A Transparência Internacional aponta que essas práticas dificultam o controle social e favorecem o desvio de recursos públicos.
O relatório ainda chama atenção para decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que levaram ao arquivamento ou anulação de processos de corrupção, o que, mesmo quando juridicamente fundamentado, pode reforçar na população a ideia de que “a corrupção compensa” e de que há impunidade no país.
Para o professor Ângelo Toyokiti Yasui, Pró-Reitor do Centro Universitário Paulistana, UniPaulistana, os dados refletem uma perda de protagonismo do país no combate à corrupção. “Embora existam críticas que podem ser feitas ao formato em que o relatório é concebido, a clara percepção é de que houve um retrocesso no combate à corrupção no Brasil e uma consequente ampliação da tolerância em relação à mesma”, afirmou.
Ângelo também aponta os riscos que a negligência pode trazer ao país. “A negligência no combate à corrupção não apenas desvia recursos que poderiam ser investidos em áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura, mas também mina a credibilidade das instituições democráticas e compromete o futuro do país.”
Outro alerta importante do estudo é a ligação entre corrupção e crime organizado. A Transparência Internacional observa que a corrupção facilita a infiltração de grupos criminosos em instituições públicas, criando um ambiente de captura do Estado por interesses ilícitos, um cenário que compromete a democracia e o desenvolvimento nacional.
No ranking global, o Brasil aparece empatado com países como Turquia, Argélia e Tailândia, e atrás de nações como Índia, Indonésia e Marrocos. A colocação acende um sinal de alerta sobre a urgência em fortalecer a transparência, a governança pública e os mecanismos de controle institucional para reverter o quadro.