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Artigo

Minhas Pérolas Capixabas

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Como esta é a primeira (espero que de uma longa série) das colunas que escrevo para o Pérola Capixaba, achei que poderia ser interessante me apresentar.

Chamo-me Gustavo Guimarães, mineiro de Belo Horizonte. Ainda hoje vivo na Capital das Alterosas. Antes que me perguntem (se é que vão se interessar por isso…), já passei da casa dos 40 e me aproximo, a passos largos, do mundo dos 50.

Como muitos dos belo-horizontinos da minha geração, minhas férias escolares de julho e de janeiro sempre foram no Condomínio Marataízes. Até onde eu sei, já não existe mais, embora os prédios ainda estejam de pé e habitados. Uma grande perda para quem passou a infância, a juventude e parte da fase adulta por lá.

Bem… as perdas sempre vão acontecer e, à medida em que envelhecemos, vão se multiplicando, até que, um dia, chegará a nossa vez de sermos perda para alguém. Assim é a vida. E o que as perdas têm a ver com o tema deste texto? Tudo a ver…

Vejam bem…

Estive em Marataízes pela última vez, em outubro de 2023, depois de algum tempo sem poder saborear a vida de nossa Pérola. Eu sempre me hospedei nas dependências do Condomínio, mas, depois que fechou, me senti meio órfão. Nesse mês de outubro, tomei coragem e me hospedei em uma pousada para os lados da Barra. Certo dia, resolvi calçar meus tênis e ir no sentido Xodó. Aí foi que, juntamente com as maravilhas que a cidade vem construindo e tem entregado a todos nós, comecei a encontrar algumas perdas. Mas vamos por partes.

Devo dizer, antes de qualquer coisa, que são perdas afetivas. Não são perdas que a cidade causou, nem perdas que resultaram em prejuízos para a população. São coisas minhas, coisas de um mineiro muito saudosista. A cidade continua linda e me atraindo cada vez mais.

Depois de alguns bons minutos de caminhada, alternando asfalto e areia, cheguei ao centro da cidade. Eu já conhecia, de passagem, as obras que foram feitas para urbanizar um trecho da praia, mas não tinha percebido, ainda, a ausência da banca de jornais logo ali na curva, quase de frente para a igreja. Foi o primeiro desconforto. Era comum parar ali.

Mas continuei e vi como estava quase que em ruínas o prédio central do Condomínio Marataízes. Confesso que me entristeci. Ele sempre foi bem cuidado, mesmo depois de ter sido vendido. Mas, enfim, continuei minha caminhada rumo ao Xodó.

Até aí, tudo relativamente bem… a praia está muito bem cuidada e se recuperando sempre. A grama crescendo na areia me tranquiliza, afinal, ela vai segurar a força do mar.

Quando caminho um pouco mais, noto a presença gritante de uma ausência. Essa eu devo dizer que senti. Afinal, era um restaurante bem antigo e que tinha um feijão tropeiro delicioso. O prédio do Gaivota não existe mais. O que teria acontecido? Era um bom restaurante… Será que os proprietários faleceram e os filhos não quiseram tocar o estabelecimento? Vai saber… O fato é que aquele restaurante, aquele prédio, não existe mais. E, com ele, aos poucos, vão as memórias…

Mas vamos seguindo. Ao chegar ao número mil da Avenida Atlântica, tive mais um impacto: onde está a rodoviária? Vi o prédio todo fechado e comecei a me perguntar para onde ela teria ido… Não encontrei respostas, mesmo depois de, em outros dias, andar um pouco mais pela cidade. Tudo bem, deve estar em algum outro lugar, talvez de mais fácil acesso.

Então, andando um pouco mais, resolvi dar a volta e buscar uma antiga padaria que sempre existiu atrás de um dos prédios do Condomínio Marataízes. Para meu alívio, ela ainda estava lá. Não encontrei o proprietário, um senhor já antigo e muito simpático com todos os que passavam por ele. Soube que ele passou o ponto para seu filho e resolveu abrir um outro negócio.

Depois de um breve lanchinho, para matar a saudade dos pães daquela padaria, resolvi voltar no sentido Avenida Atlântica e retomar minha caminhada rumo ao Xodó. Passou pela minha cabeça a necessidade de voltar. A ida é até fácil. O problema é, já com algum cansaço causado pelo sedentarismo crônico, voltar na caminhada…

Nesse percurso rumo à avenida, aí sim me veio um impacto maior. Onde está o Bar do Waltinho? Eu já sabia que o dono inicial (o Waltinho) já tinha falecido há muito tempo. Mas os parentes estavam dando conta de seguir com o negócio. Porém, nessa caminhada, vi que o prédio foi reformado e se transformou em prédio público. Ótimo para a população, mas nem tanto para meu saudosismo.

Ao ver tudo isso, senti minhas pernas fraquejarem e decidi voltar para a Barra. Claro que outros pontos bem turísticos ainda estão de pé e funcionando a pleno vapor: a sorveteria central (que adotou o nome de um personagem de desenho animado), uma churrascaria já antiga mas muito boa (certamente aberta por alguém que gosta das coisas do Rio Grande do Sul), o hotel central (que faz referência ao encontro do mar com a areia), entre outros espaços já típicos da cidade. Mas os lugares pelos quais eu nutria maior afeto não existem mais. Isso me entristeceu. Não digo que perdi meu dia. Afinal, sei que o novo sempre vem e que Marataízes está se modernizando a cada dia que passa. Mas o desconforto com tantas novidades está em mim até hoje, passado quase um ano. Desculpem, mas sou muito saudosista…

De toda a forma, mesmo com tudo isso, senti uma grande esperança em relação aos próximos anos de nossa Pérola. A cidade, que quase foi devorada pelo mar, há alguns muitos anos, consegue se reerguer e, certamente, vai voltar a ser o que sempre foi: a pérola do nosso estado.

Nas próximas colunas, ainda vou falar de lembranças, mas prometo trazer as coisas boas que nossa Marataízes tem mostrado para nós. Que tal, de cara, na próxima, falar um pouco das coisas da praia central?

Um forte abraço e até a próxima coluna!

Gustavo Guimarães
Mineiro de Nascimento.
Capixaba de Coração.

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