Sabe o que as artesãs Mikka Wents e Cris Anchieta têm em comum? Além de serem bem sucedidas e trabalharem com flores produzidas a partir de materiais naturais, as duas também buscaram o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Espírito Santo (Sebrae/ES) para desenvolverem suas marcas e seus produtos. Em celebração ao Dia do Artesão, comemorado neste 19 de março, Mikka e Cris contam um pouco sobre os caminhos que traçaram nesses anos de profissão.
“Conheci o Sebrae/ES em 2010, e foi quando entendi o meu trabalho com o artesanato. Me considero artesã a partir desse momento, ao receber todo o apoio que precisava por meio das consultorias. A partir dali eu comecei a trabalhar com o desenvolvimento de produto, iniciei minhas coleções, participei pela primeira vez da Casacor ES e passei a frequentar as feiras do setor. Todas essas ações trazem visibilidade para o artesão, principalmente dentro do nosso estado”, conta Mikka Wentz.
O ano de 2010, por sinal, também foi transformador para a artesã Cris Anchieta. “Ganhei o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios e com essa conquista vieram várias consultorias, incluindo as de gestão e custo. Pude aperfeiçoar e melhorar o meu ateliê, além de qualificar o processo do meu trabalho. Tive ainda a oportunidade de levar minhas peças para a África. Foi uma grande transformação em minha vida”, lembra.
O analista técnico do Sebrae/ES Guilherme Pella ressalta que a instituição atua pela valorização do artesanato capixaba, e conta com o apoio de outros parceiros, como a Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas e do Empreendedorismo (Aderes) e a Federação dos Artesãos do Espírito Santo (Feartes).
“O Sebrae/ES já vem trabalhando com o artesanato, ajudando o artesão a crescer, oferecendo soluções exclusivas voltadas para a área do desenvolvimento dos produtos, design de embalagens, finanças e precificação. Estamos, de fato, potencializando e alavancando o artesanato capixaba. Diversos artesãos começaram com uma base rústica e hoje são empreendedores, são artesãos que vivem disso, sustentam suas famílias e têm histórias incríveis de superação. Nosso papel é estar sempre ao lado desse segmento, gerando renda, expandindo as possibilidades de novos negócios para que o artesanato se torne mais competitivo e conhecido nacionalmente”, explica Pella.
Dicas
Duas vezes na lista do Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato, a primeira em 2023 e a segunda no ano passado, Mikka Wentz reconhece que para uma artesã ter sucesso é fundamental ser talentosa, mas isso não é suficiente.
“É importante ser criativa e inovadora dentro daquilo que decidir trabalhar, mas também precisa ter uma visão empreendedora, sendo uma boa administradora e se mantendo atenta ao que está acontecendo no mercado”, diz Mikka.
Ela também aponta que precisa saber administrar a sua marca, o seu nome, para ser vista e lembrada todos os dias. “E deve ser disciplinada consigo mesma, ou então você se perde em meio a própria criatividade. Se você se deixar envolver com tudo que gosta ou gostaria de fazer, você perde o foco e se vê perdida”, ressalta a artesã.
Cris Anchieta completa lembrando da importância em saber escolher com quem deseja trabalhar. “Eu agradeço, sempre, aos meus colaboradores, porque sem eles a gente não consegue andar. É importante saber selecionar bem esses profissionais e manter uma boa relação com cada um deles, porque é o seu nome que eles também vão carregar”, diz a artesã.
Mas nada disso vai funcionar, explica ela, se não houver amor pelo o que faz. “A motivação para eu ser artesã está no amor pelo artesanato. É o amor em fazer o que se faz. Antes de achar que vai ganhar algum dinheiro, é preciso ter certeza que você ama o que faz, e que faz isso por amor. Eu acredito, muito, que a gente já nasce com algumas coisas traçadas, e uma delas é a profissão que teremos em vida. Quando a gente encontra essa profissão, a sensação é maravilhosa e tudo flui ainda melhor”, defende Cris.
Sobre Mikka
Como gosta de dizer, o artesanato é uma companhia para a Mikka Wentz desde criança. Neta de um avô marceneiro, entalhador, coureiro e ourives, ela também se inspira nos trabalhos manuais de sua mãe e tias. “Minha origem é de várias pessoas talentosas”, diz a artesã. Mas a profissão entrou em sua vida há 13 anos, sempre usando de ecoprodutos para desenvolver suas peças.
A técnica, desenvolvida por ela, envolve papeis artesanais a partir de fibras naturais, coletadas na região do Caparaó, onde mora atualmente. Esses papeis são feitos a partir de palhas de bananeira e de café, por exemplo, ou com cascas de cebola e alho. Sempre usando o ciclo renovável da natureza, incluindo madeira, raízes, sementes e cascas.
Seus trabalhos mais conhecidos são as flores que produz a partir desses materiais. “E essa relação começou ainda cedo, quando minha avó queria aprender a fazer flores, mas precisava de alguém para ler o passo a passo para ela. Era eu quem estava ao lado dela, desde os 09 anos de idade, e acabei aprendendo a fazer”, conta Mikka.
Ao longo dos anos a artista passou por outros caminhos antes de retornar às raízes, ou melhor, às flores. Foi estudar, se casou, iniciou seus trabalhos manuais com cerâmica, saiu do Brasil e trabalhou com pintura em aquarela, retornou ao país e se envolveu com projetos sociais, desenvolveu técnicas de reaproveitamento de materiais publicitários por meio do projeto Equilíbrio, o que a levou ao desejo de desenvolver suas peças a partir das fibras naturais.
Esse trabalho, tantas vezes reconhecido nacionalmente, já esteve duas vezes em novelas da Rede Globo. A primeira, na Força do Querer, Mikka produziu 13 mil flores, todas feitas a mão, para serem usadas em cenas da novela. E agora, mais recente, ela voltou a produzir mais de 15 mil flores, desta vez para cenas da novela Pantanal. E desde 2021, ela ainda tem suas peças comercializadas pela Tok Stok.
“Agora, para esse ano de 2023, estou focada em atender uma demanda do mercado para uma grande empresa que é distribuidora de produtos decorativos para o Brasil inteiro, e para isso eu preciso capacitar, preparar mão de obra e juntar outros artesãos que queiram vender em quantidade e, assim, atender a esse mercado. E, claro, se tiver oportunidade, ainda participar de feiras nacionais”, conta a artesã.
Sobre Cris
A Cris Anchieta também tem seus produtos expostos e vendidos na Tok Stok, parceria iniciada há um ano. “Estou com uma firma grande, graças a Deus, e meu trabalho vem sendo reconhecido”, conta a artesã. Assim como Mikka, sua relação com o artesanato iniciou ainda criança, quando tinha 11 anos de idade. Muito do que aprendeu foi na aula de educação artística e também com sua mãe.
Mas foi depois que perdeu o marido que a Cris entendeu o caminho que iria seguir. “Eu caminhava pela praia de Anchieta, onde moro, ainda chorando por tudo que tinha acontecido. Namorei por 10 anos e fiquei viúva dois meses e 21 dias depois do casamento. Foi um grande impacto na minha vida. Até que um dia, nessas caminhadas, eu fui catando algumas conchas rosas que achava pelo caminho. Ao olhar para minha mão um pouco fechada, enxerguei uma flor formada por essas conchas. Minha motivação surgiu na hora, e cheguei em casa com o objetivo de reproduzir o que tinha visto”, conta.
Foi na tentativa e no erro que a artesã começou a criar o que queria. Amassou o durepox e foi colando concha por concha até chegar na flor que desejava. Aos poucos foi aperfeiçoando a técnica e produzindo cada vez mais flores. Entendeu seu primeiro sucesso quando participou de uma edição da Casacor ES e fez 400 dúzias de flores a partir das conchas rosadas que achava na praia.
“Não foi fácil. Eu trabalhava, produzia minhas peças, mas minhas flores choravam. Eu ainda estava de luto, estava triste por ter ficado viúva, mas era preciso seguir adiante”, conta Cris Anchieta.
Até que um dia surgiu em sua vida a equipe da Claudete Troiano, apresentadora do programa Note e Anote, na TV Record. “Eu apareci na televisão. E daí pra frente a minha vida foi abençoada, com meu trabalho sendo reconhecido cada vez mais”, celebra a artesã.
Com participação em diversas feiras do setor, incluindo a Latino-Americana, que acontecia em Porta Alegre (RS), e duas presenças em eventos realizados na Argentina, nem o reconhecimento internacional consegue superar a maior conquista da artista. “É com o artesanato que eu sustento, e sempre sustentei, a minha casa. Foi com esse trabalho que eu eduquei a minha filha. E foi com as flores que amo fazer que eu assumi a decoração do casamento dela, agora usando outra técnica, com escamas de peixe. E isso, para mim, é o mais gratificante”, diz.